sábado, 11 de março de 2017

O mito do Andrógino




Falando dos mitos gregos que inspiraram Eros, além do mito de Eros e Psiquê, há também o mito do Andrógino. Segundo esse mito, o ser humano é descendente de uma criatura de oito membros (quatro braços e quatro pernas), duas cabeças e dois sexos. Com um tronco cilíndrico, essa criatura era veloz e extremamente hábil fisicamente, além de muito inteligente. Desejando adquirir a sabedoria divina, ela decidiu pegar um pouco do fogo do conhecimento dos deuses. Para isso, usou suas incríveis habilidades corporais para subir rolando até o topo do Monte Olimpo, onde moravam os deuses.
Os deuses consideraram essa atitude uma audácia que deveria ser punida. Então, para castigar a criatura, Zeus, o deus soberano do Olimpo (também conhecido como Júpiter), partiu cada criatura na metade, ficando cada metade com quatro membros (duas pernas e dois braços), apenas um sexo e um tronco semicircular. Depois de partida cada criatura, as metades eram jogadas solitariamente à Terra. Desse modo, as metades foram condenadas a viver sentindo saudade, sentindo falta de algo que as completasse. Quando duas metades de uma mesma criatura se encontravam, elas se agarravam uma à outra e experimentavam um prazer indescritível, conhecendo novamente a completude.
Esse mito pode ser interpretado de duas maneiras. Por um lado, pode-se acreditar que para a plenitude ser atingida, é necessário encontrar a pessoa que nos completará - nossa metade perdida. Por outro lado, pode-se tomar como pressuposto o fato de que o ser humano é capaz de vivenciar diferentes tipos de plenitude, e que a plenitude vinda do amor sexual é uma plenitude peculiar caracterizada por uma fusão química e afetiva com o outro: a paixão é um tipo único de fusão.










terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Fragmentos



Além da mitologia grega, uma das fontes de inspiração de Eros é o livro Fragmentos de um discurso amoroso, escrito pelo pensador francês Roland Barthes. Com uma formação intelectual variada, que incluiu em seu percurso a linguística e a semiologia, Barthes desenvolveu peculiares enfoques semiológicos para analisar obras artísticas literárias, fotográficas e teatrais.
Em Fragmentos de um discurso amoroso, o termo 'amante' não tem o significado que o senso comum a ele atribuiu (indivíduo envolvido em história extraconjugal), e sim um significado mais primitivo: o amante é aquele que ama a pessoa na qual se fundiu seu desejo sexual.
Em relação à estrutura do livro, ao invés de utilizar capítulos linearmente engajados para organizar o texto, Barthes lançou mão de uma organização textual não linear que agrupa ideias (próprias e alheias) de acordo com o nível de proximidade sígnica existente em seus conteúdos. Ou seja, cada grupo de ideias gira em torno de uma combinação sígnica ou 'figura'. Todas as figuras se reportam a aspectos presentes na vida psicológica e social do ser apaixonado. Um exemplo: a figura 'Abismar-se' agrupa fragmentos de discursos (do próprio Barthes, de amigos dele e de consagrados autores) que analisam ou expõem uma situação peculiar e intensa existente em certas ocasiões da vida do ser apaixonado: a queda absoluta e solitária em um turbilhão sentimental causado pela paixão, seja um turbilhão de êxtase ou de agonia; a sensitividade e a emoção de sentir-se em um abismo. Eros bebeu nessa figura, assim como em outras figuras, tais quais: 'A calma amorosa dos seus braços', 'Intratável', 'Catástrofe', 'Adorável' e 'Coração'.
Em Fragmentos, as figuras estão dispostas em ordem alfabética, sem haver nenhum tipo de relação de causa e efeito regendo essa ordem. O leitor, aventurando-se ao acaso pelas figuras do livro, vai, por conta própria, criando ligações de significados entre as diferentes figuras.
Com Fragmentos, Barthes pretendia (conforme ele explica na introdução do livro) dar visibilidade não a enredos amorosos, mas à fala autorreferenciada do ser apaixonado: o ser apaixonado falando a respeito do que é ser um ser apaixonado. Quando Barthes escreveu Fragmentos, ele acreditava que o discurso do amante, apesar de  ser conhecido individualmente por quase todas as pessoas - visto que quase todos já se apaixonaram ao menos uma vez na vida - encontrava-se marginalizado na literatura e na vida social, sendo pouco compartilhado. Barthes relacionava a isso o fato de que a sociedade de consumo considera o discurso amoroso ultrapassado. Barthes queria tirar esse discurso da solidão e da escuridão, trazendo-o para a luz.


Roland Barthes (1915-1980)



Segue um link no Youtube para uma entrevista com Roland Barthes:







domingo, 12 de fevereiro de 2017

À procura do olhar das terras do amor



Eros é personagem da mitologia grega, um deus do Olimpo também conhecido como 'Cupido': o belo anjo que dispara flechas da paixão. Quem é acertado por uma de suas flechas apaixona-se certeiramente pela pessoa ou criatura que estiver olhando, ou pela primeira pessoa ou criatura que passar por seus olhos. A mãe de Eros é Afrodite, a deusa do amor, da beleza e da sexualidade, também conhecida como Vênus. Seu pai, dizem alguns, é Marte, o deus da guerra. Há contradições a respeito dessa paternidade.
Conta a mitologia, que certa vez Afrodite sentiu inveja de uma jovem mortal chamada Psiquê, porque esta era uma mulher extremamente bela. Os templos de Afrodite estavam ficando vazios quando Psiquê passava pelas ruas, pois as pessoas saíam dos templos afrodíticos para apreciar a beldade mortal.
Uma das versões existentes dessa história diz que, para vingar-se de Psiquê, Afrodite enviou seu filho Eros a uma missão: despejar sobre os lábios da jovem mulher a porção do desamor, para que ela vivesse toda sua vida sentimentalmente seca e só, sem nunca florescer em uma paixão, sem nunca consumar um amor.
Então, em uma noite, Eros voou até a casa de Psiquê e encontrou-a dormindo em sua cama. Ele impactou-se com sua beleza, encantou-se por ela e pensou em entornar no chão a porção maldita. No entanto, obediente à mãe, Eros resistiu a esse desejo e despejou a porção venenosa entre os lábios da mortal. Contudo, ao vê-la retorcer-se inconscientemente, com a chegada do veneno em seu corpo, Eros se perturba, identificando em Psiquê um mistério de beleza irresistível. Arrependido, ele coloca os lábios sobre os lábios de Psiquê, suga do corpo dela o veneno e voa para longe, transtornado. Para Psiquê, que estivera dormindo durante todo o ocorrido, aquele amargor não passara de um pesadelo.
Os dias se transcorrem e Eros não consegue esquecer aquele rosto, até decidir encontrá-lo de novo. Através do oráculo do templo de Afrodite, ele envia ocultamente para a família de Psiquê uma mensagem impactante: a jovem não estava destinada à vida de uma comum mortal, e deveria ser levada até o pico do grande rochedo do vilarejo, para lá ser deixada sozinha, à espera de seu futuro.
A família de Psiquê, infortunadamente, obedece o oráculo e Psiquê é levada ao pico do rochedo em um clima de desgraça. Imaginava-se que ela fora escolhida pelos deuses para um sacrifício, que sua vida acabaria ali, naquele rochedo, em uma solidão aterrorizante.
Quando Psiquê, funestamente, é deixada só, ela escuta uma voz invisível que diz para ela que ela seria transportada até a morada de um nobre anfitrião, para unir-se a ele. Um vento forte carrega Psiquê e a deixa em um palácio dourado acima das nuvens. Nesse palácio ela escuta vozes, mas não vê ninguém. É convidada a banhar-se, a jantar e a recolher-se para a cama, para descansar. Avisam-na que pela noite, em sua cama, ela receberia a visita de seu anfitrião.
Certa hora da madrugada, quando só há completa escuridão, surge o anfitrião na cama de Psiquê. Ele é gentil e carinhoso, e ela se entrega sexualmente a ele. As visitas prazerosas se repetem todas as madrugadas. Um sentimento se intensifica e o desejo cresce. Psiquê pede para vê-lo, porque queria enxergar ele, saber como ele era, ver seus olhos. Eros nega isso a ela, exige dela confiança total e não revela sua identidade. Ele não queria que ela o visse porque não queria que ela o amasse como um deus, mas simplesmente como um companheiro de amor, como o companheiro desejado. Ele queria sentir-se amado por aquela mulher, não adorado. Eros então continua encontrando-a apenas durante as madrugadas, quando a escuridão oculta-lhe a aparência.
Psiquê, angustiada, não aguenta de curiosidade e, em certa madrugada, enquanto Eros dorme, ela ascende um lampião para ver seu consorte. Ao enxergar um deus-homem violentamente belo com asas brancas, ela se assusta, deixando cair uma gota do óleo efervescente do lampião sobre o peito de Eros. A queimadura o acorda, o ressentimento o invade e ele voa furioso pela janela, dizendo que ela nunca mais o veria novamente.
Essa história continua e ocorrem muitos desdobramentos. No entanto, o que interessa a essa postagem é essa parte da história: a negação da claridade, da luz da verdade; a proibição de conhecer por completo; a impossibilidade da plena intimidade. E a resposta a isso: a procura do olhar.
Quem conhece essa história sabe que Eros e Psiquê só chegam a se amar verdadeiramente quando passam a enxergar plenamente um ao outro, em condições de igualdade, sem haver superioridade ou inferioridade entre eles: eu te vejo, você me vê; eu revelo meu ser para você, você se revela para mim.

Olhar nos olhos do ser involuntariamente escolhido pelo fundo desejo é então um ato de desnudamento.
Olhar sem se proteger e sem julgar. Um olhar aberto, de livre passagem.
Olhar tocando com os olhos para conhecer texturas, volumes, conteúdos do ser desejado.
Penetrar e acariciar pelo olhar.
O olhar como um passaporte para o amor.

No processo criativo de Eros, estamos procurando esse olhar. Queremos encontrá-lo, visitá-lo.



"Psiquê revivida pelo beijo do Amor". Escultura de Antonio Canova. Museu do Louvre. Foto: Andrea Izzotti. Fonte: Shutterstock.com 

A mesma escultura, em ângulo aberto da câmera fotográfica.


Escultura fúnebre. Foto: Ro Cechinel. Parte da exposição fotográfica de estátuas sobre túmulos: "Diálogos entre Eros, Psique e Thanatos". Fonte: http://www.deolhonailha.com.br/florianopolis/noticias/museu-historico-recebe-a-exposicao--dialogo-entre-eros-psique-e-thanatos.html




Segue um link para a história de Cupido e Psiquê no Youtube, uma narrativa com imagens sequenciadas:










domingo, 29 de janeiro de 2017

O PROJETO


O projeto Trilogia do Amor é uma iniciativa artística que pretende materializar um grupo de três obras em dança-teatro: uma para o amor erótico, outra para o amor fraternal e outra para o amor universal.


EROS


Desde o início do projeto, que começou em julho de 2016, o amor erótico tem sido o foco, com a criação de Eros, que se transformará em uma encenação com quatro artistas em cena, em um peculiar galpão do amor: intimidade, despojamento, encontro, saudade, desgosto, desejo, sombra, luz.


Apesar de ter esse nome, a encenação não pretende contar a história de Eros, o antigo deus grego do amor, mas sim, trazer à cena fragmentos da vida de todo amante (aquele que ama o alvo do seu desejo): encantar-se, entregar-se, sorrir, angustiar-se, ter medo, proteger-se, ceder, devorar, acalentar, contemplar, misturar-se, transformar-se.


A linguagem posta em cena é a linguagem corporal, desenvolvida por meio de danças, gestos e ações físicas. Com trilha sonora própria e uma iluminação que busca criar uma atmosfera de intimidade, Eros pretende embalar o público de modo delicado, lúdico e marcante no tema do amor erótico.


Eros deve sua concretização ao Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF) - que fornece apoio financeiro integral ao projeto - e conta com apoio estrutural do Centro Universitário Instituto de Ensino Superior de Brasília (IESB).

A estreia acontecerá em Brasília, no dia 17 de março de 2017, uma sexta-feira, no Teatro Garagem do SESC 913 Sul. A temporada durará três semanas, passando também pelos teatros do SESC Gama e SESC Ceilândia. Até lá, aqui nesse blog, Eros compartilhará com você um pouco de suas inspirações, referências, ideias e imagens.


A equipe criativa é a seguinte: Elisa Teixeira (direção, criação, atuação e coreografias), Katiane Negrão (assistência de direção e parceria na preparação do elenco), Clara Sales (criação e atuação), Cristhian Cantarino (criação e atuação), Rafael Alves (criação e atuação), Luís Oliviéri (trilha sonora), Camilo Soudant (iluminação), Eduardo Barón (figurinos), Maíra Zannon (design gráfico e fotografia). As fotos expostas abaixo, assim como a foto replicada no fundo do blog, são capturas de momentos de ensaios, e são de autoria de Maíra Zannon.

 

 





























APRESENTAÇÃO:


APOIO ESTRUTURAL:





Segue alguns links que dialogam com o projeto:




                                                                Os amores de Sócrates