terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Fragmentos



Além da mitologia grega, uma das fontes de inspiração de Eros é o livro Fragmentos de um discurso amoroso, escrito pelo pensador francês Roland Barthes. Com uma formação intelectual variada, que incluiu em seu percurso a linguística e a semiologia, Barthes desenvolveu peculiares enfoques semiológicos para analisar obras artísticas literárias, fotográficas e teatrais.
Em Fragmentos de um discurso amoroso, o termo 'amante' não tem o significado que o senso comum a ele atribuiu (indivíduo envolvido em história extraconjugal), e sim um significado mais primitivo: o amante é aquele que ama a pessoa na qual se fundiu seu desejo sexual.
Em relação à estrutura do livro, ao invés de utilizar capítulos linearmente engajados para organizar o texto, Barthes lançou mão de uma organização textual não linear que agrupa ideias (próprias e alheias) de acordo com o nível de proximidade sígnica existente em seus conteúdos. Ou seja, cada grupo de ideias gira em torno de uma combinação sígnica ou 'figura'. Todas as figuras se reportam a aspectos presentes na vida psicológica e social do ser apaixonado. Um exemplo: a figura 'Abismar-se' agrupa fragmentos de discursos (do próprio Barthes, de amigos dele e de consagrados autores) que analisam ou expõem uma situação peculiar e intensa existente em certas ocasiões da vida do ser apaixonado: a queda absoluta e solitária em um turbilhão sentimental causado pela paixão, seja um turbilhão de êxtase ou de agonia; a sensitividade e a emoção de sentir-se em um abismo. Eros bebeu nessa figura, assim como em outras figuras, tais quais: 'A calma amorosa dos seus braços', 'Intratável', 'Catástrofe', 'Adorável' e 'Coração'.
Em Fragmentos, as figuras estão dispostas em ordem alfabética, sem haver nenhum tipo de relação de causa e efeito regendo essa ordem. O leitor, aventurando-se ao acaso pelas figuras do livro, vai, por conta própria, criando ligações de significados entre as diferentes figuras.
Com Fragmentos, Barthes pretendia (conforme ele explica na introdução do livro) dar visibilidade não a enredos amorosos, mas à fala autorreferenciada do ser apaixonado: o ser apaixonado falando a respeito do que é ser um ser apaixonado. Quando Barthes escreveu Fragmentos, ele acreditava que o discurso do amante, apesar de  ser conhecido individualmente por quase todas as pessoas - visto que quase todos já se apaixonaram ao menos uma vez na vida - encontrava-se marginalizado na literatura e na vida social, sendo pouco compartilhado. Barthes relacionava a isso o fato de que a sociedade de consumo considera o discurso amoroso ultrapassado. Barthes queria tirar esse discurso da solidão e da escuridão, trazendo-o para a luz.


Roland Barthes (1915-1980)



Segue um link no Youtube para uma entrevista com Roland Barthes:







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